Sou SPOILER Stark de Winterfell!

(Spoiler)

Finalmente Game of Thrones assumiu uma posição que há tempos espero ver: a de adaptação. O que deveria ser óbvio, mas, a julgar pela reação do público leitor de As Crônicas de Gelo e Fogo, que na maioria das vezes espera ver na tela exatamente o que sua cabeça imaginou, parece que poucos entendem o conceito de adaptação, bem como necessidades especiais que a mídia exige. Não quero dizer com isso que não me espantei com a cena final dos Caminhantes Brancos e com o diálogo entre Olenna e Margaery Tyrell, este último esclarecedor sobre os responsáveis sobre a morte de Joffrey. Mesmo com um certo incômodo, é um choque positivo, pois dá a impressão de que, mesmo conhecendo a história, podemos ser surpreendidos – o que torna a experiência ainda mais prazerosa. Termina aqui qualquer relação entre meu texto e livros, afinal estamos falando da série adaptada e ponto final. E se ainda há quem diga que a série é misógina por trazer “mulheres como objetos” e racista por trazer poucos negros (sim, eu li um absurdo desses), Verme Cinzento e Misandei derrubam as duas acusações levianas de uma vez por todas.

game-of-thrones-oathkeeperE a série vai muito bem em vários aspectos narrativos e técnicos. No núcleo de Daenerys, cada vez mais influente e poderosa como libertadora de escravos, vemos uma sequência onde Verme Cinzento é educado nas letras por Misandei. Além de tocante e simbólico no sentido de mostrar o quanto Dany liberta e evolui seus imediatos, a sequência ainda forma uma rima temática com o núcleo de Davos em episódios anteriores, que também aprende a ler, mas com ajuda da pequena Shireen e não de Stannis. Vale destacar a belíssima composição do longo diálogo em valiriano entre os escravos em Meereen, onde, não por acaso, foi palco da perseguição dos Mestres por ruas estreitas, o que remeteu a algumas sequências de Porto Real, principalmente durante a fuga de Sansa no segundo episódio. A função disso me parece ser para mostrar a grandeza da cidade, especialmente quando a câmera traz khaleesi de baixo pra cima para ressaltar o poder que conquistou, já no topo de sua pirâmide e com a bandeira Targaryen sobre a harpia.

Com mais um bom trabalho de montagem, o episódio dirigido por Michelle MacLaren (quem acompanhou Breaking Bad conhece bem seu trabalho, incluindo o excelente episódio To’hajiilee) transita de um núcleo ao outro com sutis raccords nos próprios diálogos escritos por Bryan Cogman, fazendo com que o episódio flua muito bem no começo enquanto acompanhamos a posição de alguns personagens sobre o Casamento Roxo. Jaime volta neste episódio bem diferente daquele que protagonizou um dos maiores escândalos na semana passada, repudiado mais uma vez pela ala puritana de fãs de ASOIAF, que acha normal haver sexo entre irmãos em um septo ao lado do filho morto desde que haja consentimento da mulher. De qualquer forma, é uma excelente construção de personagem que, apesar de ser um regicida estuprador, é capaz de tomar decisões sensatas ao ouvir Tyrion (que planos excelentes sugerindo que ambos são prisioneiros!), ao dar uma chance a a Brienne para que cumpra a promessa feita a Catelyn e, já no final das suas cenas, de segui-la por alguns metros expondo através da expressão corporal que poderia sim ir com ela, mas que precisa ficar e cumpri seus votos de comandante.

Apesar de não concordar com a opinião de que a série se tornou misógina a partir do estupro do terceiro episódio, posso concordar que com um pouco mais de cuidado de Alex Graves, essa balburdia teria sido evitada. Refiro-me à cena da linda Margaery na cama do jovem Tommem, que foi perfeitamente construída por MacLaren chegando próxima de se entregar a outro tema igualmente polêmico (pedofilia) e que cumpre a função de mostrar o futuro rei seduzido pela rainha sem apelar para a exposição sexual.

Que não ficou de fora do episódio. Além da Muralha, muitas mulheres eram estupradas e espancadas pelos corvos desertores e eu duvido que alguém levantará essa bandeira agora. Alguém arrisca dizer que Michelle MacLaren é misógina? Nesta mesma sequência, o núcleo de Jon e Bran ficaram próximos de se cruzar e antecipação do encontro dos irmãos foi retratada de forma belíssima com os lobos gigantes, imediatamente interrompida com a prisão de Verão. Por um lado, há um belo trabalho de efeitos especiais quando Bran “desliza” para a mente do lobo (notem os olhos mais vivos do Verão se virem o episódio novamente), por outro são acontecimentos com poucas consequências, pois quando são presos, sabemos que Jon já planejara ir à Fortaleza de Craster e logo pouco tememos pela vida de Bran, Jojeen, Meera e Hodor, por mais que pareçam em perigo.game-of-thrones-nights-king

O final, na opinião de quem escreve, é o que há de mais controverso. Não digo isso como leitor do material original que sabia pouco sobre a origem dos Caminhantes Brancos, mas sim como espectador da adaptação. A essa altura da série, qual é a razão de mostrar os Caminhantes Brancos, tão violentos no começo de tudo, tão ameaçadores no final da segunda temporada e tão místicos até agora, como uma espécie de divindade capaz de transformar um bebê humano em um deles com um delicado toque frio? Evito julgamentos. Espero para ver que tipo de impacto esses novos personagens causarão na série, arrisco dizer que R’hllor deve tomar forma logo, ou fará pouco sentido apresentar as entidades da forma que mostraram. Especialmente as mãos frias.

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* O texto é de autoria de José Rodrigo Baldin e pode ser encontrado em seu blog pessoal – http://jrodbaldin.wordpress.com/2014/04/28/game-of-thrones-s04e04/ *

 

Veja as análises, dos episódios anteriores, nos links abaixo:

  1. Análise de Game of Thrones S04E03: Breaker of Chains
  2. Análise de Game of Thrones S04E02: The lion and the rose
  3. O retorno de “Game of Thrones”: Two swords

 

Author

Escritor e Crítico Cinematográfico, membro da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos.

5 Comments

  1. Gustavo Vieira

    Legal o texto, mas não foi uma análise e sim um resumo um tanto quanto mediano. Creio que a intenção do autor foram apenas spoilers.

  2. Carlos Schneider

    Gostei da análise e devemos ter em mente sempre que a Série é uma adaptação do livro e mais em mente ainda que isso é uma série de Fantasia, onde vejo gente causando polêmicas e chiliquismo por nada. Vendo estupro onde não existe, racismo entre outras coisa. Estupro foi oq aconteceu com as filhas do Craster bem diferente da cena da Cersei. Parece que o esquadrão dos bons modos e costumes assistem as coisas só pra achar motivos pra chorume e não aproveitam a mesma. É no mínimo estupidez e burrice a pessoa levar uma Série pra fora do contexto dela e fazer comparativos com a vida real. Se os autores se deixarem influenciar por essas pessoas ignorantes e intelectualmente sensíveis só teremos material ao nível de Crepúsculo.

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