SPOILER de Caça

(Arya)

No texto sobre o quarto episódio, afirmei que finalmente Game of Thrones assumira ser uma adaptação quando passou a revelar novos elementos ainda não “vistos” pelo público leitor de As Crônicas de Gelo e Fogo, o que foi um acerto de D&D que de certa forma mostraram o quanto são independentes de GRRM e, principalmente, seguros do que estão fazendo – além de surpreender positiva ou negativamente quem já conhece bem as reviravoltas da história.

760001got405081213hsdsc20511jpg-a29f83_960wMas como tudo tem seu lado positivo e negativo, este quinto episódio cobra o preço dessa decisão que é fazer com que os produtores criem mais cenas para amarrar as mudanças que precisaram fazer em vez de adaptar o que estava definido pelo autor. Já deixei claro que sou plenamente favorável a adaptações, gosto mais de umas do que de outras e o que importa de verdade é a série se sustentar sem que o espectador precise recorrer aos livros para entender a trama complexa cheia de intrigas e personagens. Mas (nada bom vem depois de um “mas”), mesmo quem não conhece os livros pode notar como duas sequências vieram problemáticas, que desenvolvo nos próximos dois parágrafos.

A primeira, no Ninho da Águia, foi a grande revelação do episódio, que Lysa Arryn e Petyr Baelish foram responsáveis pela morte do Mão do Rei Rorbert, Jon Arryn, o que desencadeou todos os demais acontecimentos políticos em Westeros. Foi por isso que Robert foi à Winterfell pedir a Eddard Stark que assumisse o lugar de Jon. Em Porto Real, Ned iniciou uma investigação que lhe custou a cabeça e como consequência o envolvimento de sua família na Guerra dos Cinco Reis. Essa revelação é problemática por dois motivos: usar o recurso do diálogo expositivo de maneira muito forçada quando Lysa diz a Petyr que fez tudo o que ele pediu quase como aqueles vilões de desenhos animados que ao final precisam contar ao herói todo o plano maligno. E, o que me parece pior, não reconstruir a trama em torno de Jon Arryn, que aconteceu na primeira temporada, dois reis atrás, antes de tantas coisas ainda mais marcantes como a morte de Ned (diretamente ligada a esse fato), a morte do Khal Drogo e o nascimento dos três dragões, a Batalha da Água Negra, o Casamento Vermelho e a morte de Joffrey, só pra citar alguns. Veremos mais adiante como essa reconstrução faz falta.

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A segunda sequência que fugiu dos padrões da série foi a batalha final na Fortaleza de Craster, que começa bem ao ser antecipada pelo vidente Jojen Reed que livra a séri… digo, a irmã de um estupro (esse sim seria completamente desnecessário, diferente do de Cersei que contribuía para a construção dela e de Jaime). Infelizmente a batalha final soa episódica, previsível e anticlímax (coisa que jamais seria escrita por GRRM, julgo) ao mostrar um assalto inicial antes da hora indicada por Jon Snow onde todos lutam contra todos, reservando um duelo de chefe contra chefe sozinhos longe de todos, o que não contribui para nada na batalha, pois nada, absolutamente nada em Westeros funciona com essa simetria. Como se não bastasse, traz ainda uma rápida resolução de um conflito entre Rast e Fantasma, plantado em episódios anteriores. Ao menos deram um fim à Locke e se podemos tirar algo mais disso é a construção de um terceiro personagem formado a partir da união de Bran e Hodor, em especial o ódio do garoto em um belo plano plongé na face do grandalhão. O roteiro também cria uma rima entre os núcleos de Jon e Dany, que pra mim ficam cada vez mais próximos de se estabelecerem em definitivo como o Gelo e o Fogo, mostrando a clemência do bastardo ao libertar as mulheres, o que é recorrente por onde passa a Mãe dos Dragões. Ainda assim, em geral, o tom episódico enfraquece demais a batalha.

760001got405073113hsdsc03701jpg-a29f82_960wÉ claro que apesar de ser o mais fraco desta quarta temporada, há muitos pontos positivos em First of His Name. A sequência inicial foi conduzida por Michelle MacLaren com muita sutileza ao mostrar apenas na mise-en-scène toda a relação que terá o jovem Rei Tommem Baratheon I, título do episódio, manipulado por sua futura esposa duas vezes viúva, protegido por mãe (perceba o momento e a posição de câmera quando Cersei entra em cena) e cercado em volta do trono por Varys, Pycelle, Olenna e Tywin (quem, momentos depois, revela à filha estar quebrado economicamente). Outro ponto positivo foi o contraste do cenário de Tommem, sempre em sombras desde Robert, com a sala de Daenerys, arejada, iluminada com luz natural e mobília sem a violência a que remete o Trono de Ferro. Os núcleos de Arya e Cersei trouxeram de alguns personagens que serão importantes nos próximos episódios, como na prece de Arya ao citar a turma de Ser Beric, no diálogo com o Cão sobre seu irmão Montanha e no diálogo de Cersei com Oberyn Martell, onde destaca a força dele em combate (percebe a diferença nessa construção comparada ao diálogo de Lysa com Mindinho?).

E Sansa? Bom… melhor falar de Sansa mais pra frente…

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* O texto é de autoria de José Rodrigo Baldin e pode ser encontrado em seu blog pessoal – http://jrodbaldin.wordpress.com/2014/05/05/game-of-thrones-s04e05/*

 

Veja as análises, dos episódios anteriores, nos links abaixo:

  1. Análise de Game of Thrones S04E04: Oathkeeper
  2. Análise de Game of Thrones S04E03: Breaker of Chains
  3. Análise de Game of Thrones S04E02: The lion and the rose
  4. O retorno de “Game of Thrones”: Two swords

 

Author

Escritor e Crítico Cinematográfico, membro da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos.