Brienne

Ladeira acima, Game of Thrones começa a construir um clímax com a promessa de ser tão grandioso quanto os anteriores. Exceto, é claro, o clímax da terceira temporada, afinal, algo mais forte do que o Casamento Vermelho deve ser impossível de se fazer. E sim, estou duvidando e torcendo pra queimar a língua.

Muito bem dirigido por Jeremy Podeswa (que extraiu o melhor de Alfie Allen!), Kill the Boy fecha a primeira metade da quinta temporada com o foco no norte. E ainda tenhamos um importante avanço nos núcleos de Dany e Tyrion (no dele nem tanto), o episódio se concentra em construir o embate entre Stannis Baratheon e Roose Bolton por Winterfell.

E que construção! Bryan Cogman é um dos melhores roteiristas que D&D têm à disposição. Não é a primeira vez que ele entrega um excelente episódio e geralmente vemos uma fluidez no mínimo equivalente ao roteiros dos criadores da série. Perceba como o roteirista traz todos os Stark de volta para o episódio. Primeiro Cogman coloca Sansa diante da torre onde Jaime arremessou Bran, o que serve para mostrar a força da garota em uma situação esmagadora.

Depois a coloca em um jantar com a “família” Bolton. Repare que ali estão todos os assassinos de seus irmãos: Bolton matou Robb; Theon (até onde ela sabe) matou Bran e Rickon. Além disso, Walda é uma Frey que estava no Casamento Vermelho, o que é suficiente para encurralar ainda mais os sentimentos de Sansa. O roteirista ainda inclui no texto os nomes de Ned e Catelyn, claramente com o objetivo de trazer a essência de Winterfell de volta à cabeça do espectador depois de tanto tempo. Pois, claro: The North Remembers.

Ramsey-Sansa

Paralelamente, Cogman equilibra as dificuldades de Jon e Dany, ambos jovens líderes que precisam tomar decisões difíceis que certamente trarão mais (ou novos) problemas do que soluções, mas que surgem como único recurso para que não fiquem sem ação. E aqui percebo ainda mais que a série está realmente direcionando Jon e Dany para lados opostos. Primeiro o figurino dos dois, que gradativamente apostou na dessaturação das cores de Daenerys desde a terceira temporada, onde vestia um azul intenso (liberdade que ela representava), até que chegamos ao branco, uma oposição interessante ao preto que Jon adotou desde a primeira temporada por razões óbvias.

Se fosse apenas o figurino, não apontaria isso. A fotografia predominante na quinta temporada usa luzes e objetos azuis e laranjas. Nos primeiros episódios fiquei incomodado (e ainda fico), mas agora me pareceu claro que a predominância dessas cores remete a um único antagonismo: Gelo e Fogo. Veja o quinto episódio novamente e perceba como temos vários planos onde o laranja sai da fotografia quando Jon está sozinho em tela e o azul sai da fotografia quando é a vez de Dany.

Além disso, no episódio passado tivemos de volta uma conversa sobre Rhaegar e Lyanna, possíveis pais de Jon Snow, que faria dele um Targaryen. Neste episódio, Cogman constrói um diálogo entre Sam e Aemon Targaryen onde discutem a solidão de Daenerys, sem um familiar por perto para guiá-la e dar um bom conselho. Então, na cena seguinte… Aemon guia e aconselha Jon Snow. É sutil e é brilhante.

Tyrion

O roteirista ainda tem o cuidado de construir melhor outros personagens, como o Randyll Tarly e Ramsay Bolton. Colocar o pai de Sam como o único a derrotar Robert é uma manobra interessante, pois é certamente um personagem que deve surgir com força na sexta temporada. Foi uma introdução e tanto. Já Ramsay,  vemos o sociopata fragilizado diante da possibilidade de perder a posição para um segundo filho de Roose, mesmo que o pai o coloque em uma posição de destaque em defesa de Winterfell. Ainda aposto que, umas das mudanças drásticas do material original, não teremos Boltons na sexta temporada. Exceto esse tal filho de Walda Frey. Gosto, aliás.

Sem dúvida, o ponto alto do episódio foi poder visualizar um pouco de Valyria e os três dragões. Não dá pra dizer que aqueles sujeitos contaminados por escamagris tenham sido lá uma ameaça tão grande (na verdade, aquela cena é um tanto quanto constrangedora). De qualquer forma, a sequência toda mostra a segurança que os criadores têm ao conduzir os destinos dos personagens. Eu, que já li todas as publicações de As Crônicas de Gelo e Fogo (livros e contos), fiquei com um nó na garganta imaginando o que aconteceria com Tyrion.

No mínimo, pensei que o episódio acabaria ali, com um recurso barato pra deixar o espectador pensando por uma semana se o anão teria morrido (como fizeram com Barristan no episódio anterior). Gostei bastante do resultado ao final dessa cena de Tyrion, pois ficou uma piscadela dos produtores como se dissessem “viu como sabemos o que vocês estão esperando?”.

GoT 5×06 Promo “Unbowed, Unbent, Unbroken

Author

Escritor e Crítico Cinematográfico, membro da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos.

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