cartaz-mamaO trabalho conceitual do pôster que traz o nome de Guillermo Del Toro (O Labirinto do Fauno), como produtor, e da atriz Jessica Chastain (A Hora Mais Escura, O Abrigo, Histórias Cruzadas) como protagonista são apenas chamarizes de público para o terror Mama.

Não se engane que poderá encontrar algo diferenciado. O primeiro longa-metragem do inexperiente diretor argentino Andrés Muschietti, baseado no curta-metragem homônimo que realizou em 2008, é um apanhado de clichês gratuitos em uma história mais do que requentada. Apesar de não ser um produto propriamente hollywoodiano, co-produzido pela Espanha e Canadá, Mama cai nas mesmas armadilhas que vem abatendo os recentes filmes de terror realizados nos EUA: apostar em sustos simplistas em detrimento a uma história mais bem elaborada. Logo se tem uma obra que pode entreter enquanto se está assistindo, mas é tão pobre de idéias (algumas até desafiam a inteligência do espectador em ligar os fatos), que se torna inevitável a imensa sensação de vazio ao final da sessão.

Mesmo com um mote principal contemporâneo, a direção de arte de Mama remete diretamente a do O Labirinto do Fauno, filme dirigido por Del Toro em 2006. Se a estética visual tem lá seu capricho, claramente influenciada pelo já citado Del Toro, o mesmo não pode ser dito do roteiro escrito a seis mãos (?). Os primeiros quinze minutos já denotam o desleixo do texto: um carro desgovernado derrapa, sai da pista em tom de acidente e, aparentemente, para não muito distante do local da frenagem. Do automóvel sai um pai descontrolado que acabou de assassinar a esposa com suas duas filhas pequenas a tira-colo. Caminhando pela floresta congelada que beira a estrada, encontram uma cabana abandonada logicamente habitada por um espírito ruim. Corta. Então a trama avança cinco anos, trazendo Lucas (Nicolaj Coster-Waldau, de Game of Thrones), irmão do sujeito, que continua em busca do paradeiro das meninas (o irmão não importa). Acreditem! O rapaz demorou benditos cinco anos para encontrar o veículo que caiu na beira da estrada! Convenhamos, é forçar muito a barra.

O tempo em que passaram na cabana, sendo criadas pelo espírito que chamam de “Mama”, fez as crianças adquirirem um comportamento selvagem, principalmente a mais nova, Lilly (Isabelle Nélisse). Agora resgatadas, elas passam a ser estudadas pelo Doutor Dreyfuss (Daniel Kash), médico enxerido de uma renomada instituição psiquiátrica. Enquanto isso, as irmãs passam a viver com Lucas e sua namorada Annabel, interpretada por uma Jessica Chastain de cabelos curtos, negros e pagando de guitarrista de uma banda de rock. O tom de desconforto com a estranha presença das garotas é aparente pelo lado de Annabel, que só aceita a situação em consideração ao namorado. Nesse meio tempo, Lilly e sua irmã mais velha, Victoria (Megan Charpentier), vão apresentando evolução do estado bárbaro de outrora, mas continuam com o mesmo comportamento sinistro. Afinal, elas não se livrariam tão fácil da Mama. Em seguida vem o básico: sustos programados, paredes escurecidas, infestação de insetos, investigações em bibliotecas, tudo muito previsível.

Não bastasse tanto “lugar comum” em um filme de noventa e poucos minutos, a trama de Mama ainda resolve cair em contradição criando uma improvável relação maternal entre Annabel e as pimpolhas. A moça que praticamente odiava as meninas, de uma hora para outra passa a nutrir um amor imensurável por elas. E sem muita cerimônia, o bonzinho Lucas é colocado para escanteio (até porque Jessica Chastain precisa trabalhar) e a problemática principal do filme se torna o embate entre a roqueira “gostosona” e o espírito do mal “problemático”.

Entre tantas considerações negativas, se deve reconhecer que o desfecho de Mama, trabalhado com toques de melancolia e singeleza, guarda pontos positivos. O epílogo, provavelmente mexido por Del Toro, denota que se a estrutura toda fosse trabalhada com mais esmero, certamente o filme teria mais qualidade. Nesse jogo de gato e rato entre Annabel e a Mama, a trilha sonora ordinária faz seu “papel” em enunciar os sustos, que não são poucos. Artífices do gênero, geralmente climáticos, até funcionam em um primeiro momento, mas não demoram a perder sua graça e interesse. Afinal de contas, tudo que é demais enjoa.

Classificação: FRACO

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Mama (Mama)

Sinopse: Casal tem o desafio de criar duas sobrinhas que passaram cinco anos sozinhas numa floresta.
Direção: Andres Muschietti
Elenco: Jessica Chastain, Nikolaj Coster-Waldau, Daniel Kash, Isabelle Nélisse, Jane Moffat, Javier Botet, Jayden Greig, Julia Chantrey, Kevin Kirkham, Maya Dawe, Megan Charpentier, Morgan McGarry.
Gênero: Terror
Duração: 100 min.
Distribuidora:  Paramount Pictures
 

3 Comments

  1. Leonardo

    Gostei muito desta crítica. Parabéns para o blogueiro.
    Verdade, o filme é cheio de furadas imperdoáveis e o roteiro bem fraco. Poucas cenas no filme vc fica meio tenso, mas não passa pra dar sustos grátis. Mama não é um filme pra assistir no cinema, aliás, é perda de tempo e custo de ingresso.
    Não vi o curta-metragem original, por ganhar prêmios deve ser bem interessante.