bela e a fera cartazMais uma adaptação de clássicos voltada para um público mais velho chega aos cinemas com os mesmos acertos e erros de tentativas anteriores. Dessa vez, A Bela e a Fera, clássico conto de fadas da literatura francesa, ganha nova versão live action nas mãos de Christophe Gans (do bom Terror em Silent Hill) com bons momentos e desmoronam quando tentam fazer da história algo muito maior do que simplesmente é.

Bastante conhecida do público, a história conta como Bela (Léa Seydoux), filha de um mercador (André Dussollier), encontra um castelo onde habita um príncipe amaldiçoado (Vincent Cassel) a uma forma de fera até que uma mulher se apaixone por ele. Ele aprisiona Bela que aos poucos descobre o passado do príncipe e faz o pedido de ver sua família uma única vez. A partir daí, o filme segue sozinho em uma trama que não se sustenta e ignora elementos que poderia dar um rumo diferente à produção.

Com boas interpretações do elenco principal e secundário na maior parte do tempo, A Bela e a Fera começa muito bem, com ótima direção de arte que permite lindas transições entre a narrativa e um livro lido por mãe aos seus filhos, já que essa foi a estrutura escolhida por Gans e a estreante Sandra Vo-Anh que assinam o roteiro irregular. Todas as vezes que saltamos da história lida para o presente com a mãe e os filhos, vemos belas composições de cenários que correspondem às gravuras do livro e que continuam com uma ótima fotografia do experiente Christophe Beaucarne, que garante a maior qualidade do filme.

Uma pena que isso não é aproveitado no terceiro ato. Torna-se um problema, aliás. Se por um lado a direção de arte acentua a fábula que acompanhamos na maior parte do tempo, por outro, destoa o “mundo real” que é recriado com a mesma paleta de cores, com cenários que se assemelham a uma pintura com poucos elementos animados (note o cais, com muitos navios atracados e um céu com nuvens estáticas ou a casa de campo com o mesmo conceito).

bela fera

Outro erro de Gans é não investir mais nos elementos fantásticos que apresenta (ou investir mal, como fica claro nos gigantes de pedra… é, pois é…). Exemplo disso é o momento em que a narradora cita que Bela teria algumas criaturinhas como melhores amigas sem desenvolver absolutamente nada dessa amizade. Posso até admitir que esse comentário da narradora se justifique ao final, mas poderia ser usado para mover a narrativa no clímax. Em vários momentos espalhados no primeiro e segundo ato, o diretor investe em planos detalhe para mostrar as mobílias, candelabros, relógios e tantos outros objetos que remeteriam o público a outras adaptações. Uma referência legal, mas acaba aí, sem que nada disso tenha função narrativa em uma história com personagens reduzidos e bem interpretados, apesar da limitação imposta pelo roteiro que dá pouca profundidade a todos, exceto os dois principais, naturalmente.

Os cenários são belíssimos e não há dúvida que são o ponto forte do filme, seguido pelo figurino, que desenvolve a personagem de Bela com perfeito simbolismo no uso das cores, e pela transformação de Cassel em uma convincente Fera. Aqui Gans acerta ao explorar bem as locações e os cenários para passar informações ao espectador (note como o humor da Fera é revelado pelo clima em volta do seu castelo) e também ao movimentar a câmera sempre sugerindo o ponto de vista da Fera perseguindo Bela sem que ela perceba.

Bom filme, mas que pode frustrar quando tenta dar suas próprias soluções. A Bela e a Fera é ainda um deleite visual que vale o ingresso, mas sim, precisamos fazer uma força pra ignorar seu dispensável terceiro ato.

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Escritor e Crítico Cinematográfico, membro da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos.

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