sob o mesmo ceu cartazBem longe da mesma qualidade de dos filmes anteriores de Cameron Crowe, Sob o mesmo Céu é um filme com uma enorme crise de identidade. Claramente uma comédia romântica que falha tanto quando tenta colocar a leveza do gênero quanto quando quer se aprofundar nos personagens principais e no desenvolvimento no mundo onde estão inseridos.

Bradley Cooper é Brian Gilcrest, é um militar condecorado que em algum momento da carreira teve um acidente que o marcou negativamente. Ele volta ao Hawaii para uma missão secreta onde reencontra sua ex-namorada Tracy Woodside (Rachel McAdams), agora casada com outro militar e com dois filhos. Durante a missão financiada pelo milionário megalomaníaco Carlson Welch (Bill Murray), Gilcrest terá a companhia de Allison Ng (Emma Stone, que nunca mais deveria interpreter militar na vida) e a supervisão do vaidoso General Dixon (Alec Baldwin).

Crowe também assina o roteiro e falha ao insistir em alternar aspectos culturais nativos da ilha com a presença tecnológica, corrida armamentista e exploração comercial do espaço. É muita coisa amarrada de forma frágil e que acaba servindo a um propósito fracassado de divertir. Todo o misticismo presente na cultura local acaba sendo usado para contrapor à necessidade dos habitantes de ter uma torre com sinal de celular, ao passo que todos aqueles que não são nativos e que têm acesso a todo tipo de tecnologia acabam tomando o mana da natureza como crença, o que realmente soa uma enorme babaquice de Crowe com o conceito de Aloha, que é também o nome original do filme.

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As falhas da construção desse mundo ainda se estendem a uma sucessão de eventos sem precedentes e sem consequências. A pior delas é quando um personagem abandona a família sem sequer falar com os filhos pequenos e então retorna sem que nenhum dano tenha sido causado na relação com todos. É isso e mais tantas outras coisas pontuais inexplicáveis sobrepostas com sucessivos erros de montagem e andamento.

O posicionamento de câmera também é algo bem problemático. De um lado, explora o rosto de Cooper com sorriso canastrão com planos bem fechados, também utilizados para mostrar as inúmeras mordidas no lábio de McAdams e de Stone, pois o único objetivo das duas personagens parece ser definir a relação com o protagonista.

sob o mesmo ceuE assim, de forma aborrecida na maior parte do tempo, Crowe não limita o overacting dos atores e tenta se beneficiar disso para arrancar alguns risos, reservando apenas um único momento mais inspirado e divertido no terceiro ato, onde há um diálogosem que os personagens precisem dizer algum coisa.

Com uma história mal construída, Crowe fica com poucas alternativas para encerrar sua história e apela para uma previsível mudança de comportamento dos personagens, usada conforme convém às suas necessidades narrativas.  É um filme que poderia muito bem ser dirigido, roteirizado, estrelado e montado por Adam Sandler que não causaria nenhum espanto com tantas irregularidades.

Author

Escritor e Crítico Cinematográfico, membro da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos.

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