Sempre achei que não havia mais o que explorar na franquia de Transformers. Aliás, não imaginei que haveria o que explorar depois do primeiro filme.

E então Michael Bay volta à direção do QUARTO longa sobre os robôs que viram automóveis e termina com a promessa novas aventuras. Não quero fazer julgamentos sobre as obras anteriores do diretor, já que são incontestavelmente sucessos de bilheteria que garantem a continuidade do projeto por anos. Apenas quero afirmar que, para o bem ou para o mal, Transformers: A Era da Extinção é uma orgia megalomaníaca de Michael Bay.

É dizer que quem gosta do que ele fez nos três primeiros, certamente vai adorar o filme. E quem não gosta terá profundas e duradouras dores de cabeça após poucos mais de duas horas e meia de cortes rápidos e explosões, inúmeras viradas no roteiro e uma história nada, nada cativante e muito cansativa.

O filme conta como Optimus Prime retorna para reunir os autobots e enfrentar inimigos cada vez mais poderosos e, como sugere o roteiro, invencíveis. E ele volta pelas mãos de Cade Yeager (Mark Wahlberg) um inventor texano quebrado financeiramente e com problemas pra lá de forçados para criar sua filha adolescente Tessa, interpretada pela Nicola Peltz (de Bates Motel). Enquanto isso, o governo estadunidense promove campanhas anti-alienígenas e um grupo paramilitar mercenário liderado por Harold Attinger (Kelsey Grammer, o Fera de X-Men 3) caça qualquer autobot que encontra por aí utilizando tecnologia absorvida de robôs destruídos no terceiro filme por um empresa presidida por um outro inventor chamado Joshua Joyce, um Tony Stark apresentador de Jogos Vorazes vivido por Stanley Tucci.

Então, depois de investir um bom tempo na relação entre pai e filha que não soa nada verdadeira e cheia de sexismo barato, surge do nada um conveniente namorado piloto de rally, Shane Dyson (Jack Reynor), em um veículo rápido o suficiente para fugir dos mercenários e para salvar Cade, Tessa e outro personagem que apenas surge na história para 1) Comprar um caminhão (leia, Optimus Prime) por cento e cinquenta dólares e 2) Para sugerir uma relação entre ele e Tessa pra que tenhamos uma “super virada” no roteiro de Ehren Kruger (responsável por muitas outras bombas que já vimos por aí). Ah, sim: faltou mencionar os robôs caçadores de relíquias que viajam a galáxia inteira atrás de “grandes guerreiros” e que estão na terra em busca do líder dos autobots para prendê-lo junto a outros alienígenas perigosos que serão usados pelo diretor em prol da sua megalomania.

O curioso é que Michael Bay é mais do que consciente do que está fazendo e isso é até um ponto forte que ajuda na digestão. Não é por acaso que lança piadas sobre todo o absurdo que está filmando e vemos Stanley Tucci se divertir com seus diálogos, já que a maioria das piadas é dita por seu personagem. Outro ponto forte são os efeitos especiais que não decepcionam, como é de se esperar. O conceito dos novos robôs gerados a partir de experiências com um novo elemento encontrado em um “fóssil” é muito eficiente e sugere poderes ainda maiores aos robôs, assim como a concepção dos dinobots, que são tão grandes que servem de montaria para Optimus Prime e outros. Infelizmente isso é pouco explorado para contribuir na personalidade dos heróis e serve apenas para causar mais impacto visual e até beira o absurdo de uma sequência inicial onde uma invasão alienígena é a responsável pela extinção dos dinossauros (isso é coisa que se conte em um QUARTO filme?). E esse é só um exemplo da megalomania de Bay.

O diretor investe tempo demais em batalhas intermináveis. O filme não acaba nunca. Se não estamos vendo tiros, capotamentos e explosões causados pelos robôs que nunca atingem, ferem ou ameaçam Cade, Tessa e Shane, acompanhamos tiros, capotamentos e explosões causados pelos mercenários que, claro, nunca atingem, ferem ou ameaçam Cade, Tessa e Shane. E se pareço repetitivo nessa análise, espere o filme. Assim, em determinado momento do oitavo ato do filme (desculpe, não resisti…), já não podemos mais temer pelo desfecho dos humanos que sofrem bruscas viradas, como a aceitação do namoro da filha e outras bobagens incluídas no texto. Essas pequenas tramas são outros grandes erros de Bay, que tenta sustentar sua história explorando mal alguns temas como genoma, extinção dos dinossauros, Santo Graal, transcendência, ressurreição e ataques terroristas como ameaça à segurança nacional dos EUA, o que só colabora para levar o filme às duas horas e quarenta e cinco minutos.

Mas já que incluiu sequências longas e sugeriu arcos dramáticos dos personagens humanos, Bay deveria ao menos ter poupado o espectador de apresentar uma personagem feminina capaz de enfrentar o pai para que aceitasse seu namoro para em seguida jogá-la sob a proteção dos dois homens em todas as situações de perigo. O mesmo vale para o momento em que Cade aprende a usar uma arma alienígena e sugere que irá patentear o projeto, uma referência à industria armamentista. Dois temas delicados em um filme que não pede nem explora nada disso, mas que expõe muito do diretor.

Apesar de tudo o que citei acima, o desfecho sugere uma continuação que gostaria de ver se Bay realmente explorar o destino de Optimus Prime sem precisar de outro retorno épico do líder dos autobots em nosso planeta. Porque de tudo o que foi jogado no(s) filme(s), os humanos no universo de Transformers são o que há de menos verossímil e poderiam enfrentar uma era de extinção e dar lugar a mais robôs por aí, como sugere e não cumpre o título do filme.

Transformers: A Era da Extinção (Transformers 4: Age of Extinction)

Elenco: Mark Wahlberg, Nicola Peltz, Stanley Tucci, T.J. Miller, Sophia Myles, Kelsey Grammer, Peter Cullen, Titus Welliver, Bingbing Li, Jack Reynor, Geng Han.
Direção: Michael Bay
Gênero: Ação
Duração: 166 min.
Orçamento: US$ 165 milhões
Distribuidora: Paramount Pictures
Estreia: 17 de Julho de 2014

Author

Escritor e Crítico Cinematográfico, membro da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos.

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