Protagonizado por um Robin Williams que já desfrutava de um invejável prestígio internacional, Jumanji apresentava uma proposta descompromissada, Jumanjiinvestindo numa dinâmica centralizada num jogo fantasioso de tabuleiro que trazia consequências dramáticas para a realidade de seus jogadores, mas sem esquecer de criar uma atmosfera que explorava com eficiência a natureza assustadora daquele passatempo, o que resultava numa trama imprevisível, envolvente, e que jamais perdia de vista sua vocação para a aventura.

Hoje, 20 anos depois, finalmente somos apresentados à sua continuação. Agora sem a presença de Williams (falecido em 2014), coube a Dwayne “The Rock” Johnson a tarefa de estrela-la, ao lado de Kevin Hart (seu parceiro no divertido Um Espião e Meio), Jack Black (confortável com produções infanto-juvenis) e Karen Gillan (a Nebulosa de Guardiões da Galáxia).

Escrito a oito mãos, o roteiro traz uma bem-vinda atualização para a história, substituindo o tabuleiro, por um jogo de videogame, o que, além de fazer sentido, dialoga melhor com a nova geração, muito mais familiarizada com o mundo digital. Porém, o artifício empregado para possibilitar tal mudança soa preguiçoso, já que a simples “transformação” num cartucho (sim, o tabuleiro literalmente “escolhe” isso), poderia ser substituída por uma ideia mais plausível, afinal, qual seria o problema de exibir uma versão digital de Jumanji?

Controvérsias à parte, rapidamente descobrimos que o tal jogo de videogame agora transporta seus jogadores para dentro de seu mundo, invertendo a dinâmica do original, onde era a nossa realidade que era invadida. Sendo assim, Jumanji permite que cada jogador escolha um personagem virtual para assumir, sem avisar que, na verdade, essa escolha definirá seu avatar dentro do mundo virtual.

Mergulhando de cabeça nessa ambientação virtual, o roteiro mostra criatividade ao absorver uma série de características dos games, adotando uma dinâmica que será imediatamente reconhecida pelos gamers, como ao sugerir “cutscenes” (aquelas cenas em que não exercemos controle), níveis, chefões e até mesmo aproveitando com irreverência os NPCs (non-player character, em inglês, ou personagem não jogável em tradução livre), que aqui rendem alguns momentos curiosos.

O ator neozelandês Rhys Darby (do bom Sim, Senhor), por exemplo, diverte precisamente graças à sua composição como o NPC Nigel (seria uma homenagem ao desenho dos Thornberrys?), adotando uma postura robótica e repetindo suas falas sem alterar a entonação. Esse entendimento da proposta do filme também se aplica a Bobby Cannavale (da série Vinyl), que encarna Van Pelt (o mesmo sobrenome do Caçador do primeiro filme) sem o menor medo de abraçar a caricatura, convertendo-o numa representação clara do mal, ou, no caso, num típico vilão de videogame.

Outra representação fiel dos videogames diz respeito à ação do longa-metragem que, adaptando-se à lógica dos jogos virtuais, exibe lutas com ritmo cadenciado, obrigando os atores a desferirem seus golpes sempre de maneira lenta e mecânica o que deve ter sido um tremendo alívio para os montadores Steve Edwards (da série Dear White People) e Mark Helfrich (do bobo R.I.P.D. – Agentes do Além) que não demonstram dificuldade ao cortarem as cenas, permitindo que o público compreenda o que está acontecendo.

Já a fotografia da húngara Gyulas Pados (do subestimado Maze Runner – Prova de Fogo) resiste à tentação de tremer a câmera, acertando igualmente ao empregar uma paleta de tons pastéis que, vez ou outra, não se furta em destacar cores mais quentes como o verde e o azul, contrastando de forma efetiva com os tons frios que marcam as cenas do mundo real. E se a trilha sonora de Henry Jackman se destaca pela boa utilização dos imponentes tambores do filme anterior, os efeitos visuais representam uma verdadeira decepção, já que a natureza artificial dos animais vistos na tela e o uso exagerado de CGI (principalmente) na construção das locações, evidenciam um trabalho pouco verossímil e carente de refinamento. Felizmente, o elenco principal é bom o bastante para, ao menos, compensar esses equívocos.

Interpretando o Dr. Bravestone com o carisma de sempre, Dwayne Johnson diverte-se ao emular uma espécie de Indiana Jones “pós upgrade”, ratificando não só seu bom timing cômico (seu olhar intenso é hilário), mas também tendo cuidado ao lembrar da vulnerabilidade de seu alter-ego adolescente, ao passo que Jack Black finalmente volta a entregar uma boa performance, depois de uma série de atuações no piloto automático, ao trazer para o seu avatar os mesmos trejeitos femininos de sua usuária. Cumprindo confortavelmente a função de alívio cômico, Kevin Hart resgata a química com Dwayne Johnson, mas é Karen Gillan quem acaba roubando a cena, graças às duas boas gags que envolvem o “poder especial” de sua guerreira e também à bem-vinda alfinetada na caracterização machista das heroínas cinematográficas, numa boa piada sobre seu figurino.

Copiando descaradamente Clube dos Cinco (ou dos quatro, no caso), ainda que surpreendendo positivamente com uma pequena reviravolta no fim, Jumanji – Bem-Vindo à Selva compensa sua desnecessidade com uma atualização competente e divertida do amado filme antecessor, entretendo sem abusos e reverenciando sem forçar a barra.

Copiando descaradamente Clube dos Cinco (ou dos quatro, no caso), ainda que surpreendendo positivamente com uma pequena reviravolta perto do fim, Jumanji – Bem-Vindo à Selva é aquela típica aventura previsível que fará sucesso nas tardes de domingo, representando uma atualização divertida e até competente do amado filme antecessor, mas mesmo que consiga entreter sem forçar a barra, jamais consegue disfarçar sua desnecessidade.

Author

Crítico de Cinema e Carioca. Apaixonado pela Sétima Arte, mas também aprecia uma boa música, faz maratona de séries, devora livros, e acompanha futebol. Meryl Streep e Arroz são paixões à parte...

Comments are closed.