Depois de uma carreira consolidada e de conquistar imenso prestígio dentro da Indústria, George Clooney tem dado cada vez mais atenção à sua carreira como diretor, Suburbicononde demonstrou potencial em ‘Confissões de uma Mente Perigosa’, sua estreia na função. Quinze anos, quatro longas-metragens, uma indicação ao Oscar e um fracasso retumbante (o fraco ‘Caçadores de Obras-Primas’) depois, Clooney volta para trás das câmeras em Suburbicon – Bem Vindos ao Paraíso.

Com roteiro assinado pelos Irmãos Coen (‘Onde os Fracos Não Tem Vez’) e reescrito pelo próprio Clooney ao lado de seu parceiro habitual Grant Heslov, a trama, ambientada no final dos anos 50, acompanha os habitantes de um bairro planejado chamado Suburbicon, onde a uma aparente perfeição esconde os mais variados preconceitos por parte de seus moradores.

Nesse sentido, Clooney é implacável, ao retratar o racismo da maioria conservadora de forma acidamente cômica, criando situações que investem numa ironia subjacente que deixam para o próprio espectador tirar suas conclusões, como nas muitas cenas em que vemos homens e mulheres de meia-idade reagindo com desconfiança (e até mesmo medo) à chegada de moradores negros, atribuindo a evidente descriminação ao receio de verem a criminalidade aumentar, quando descobrimos mais tarde que os únicos bandidos da trama são, ironicamente, brancos.

Aliás, Clooney é particularmente eficiente ao contrapor as ações violentas e selvagens dos brancos ao comportamento pacato dos novos residentes, e é uma pena portanto, que o cineasta acabe deixando de lado esses comentários à medida que a trama avança, recorrendo a ela somente para amarrar a narrativa.

Narrativa esta que sofre com a indecisão de seu diretor no que se refere ao tom, já que Clooney mostra-se perigosamente incerto em apostar na sua tendência ao humor negro, vez por outra deixando-se levar pelo suspense policial e abandonando-o imediatamente para entregar-se drama. E mesmo que a ótima trilha sonora do sempre eficiente Alexandre Desplat (do vindouro ‘A Forma da Água’) ilustre os acontecimentos da trama através de acordes que evocam o fabulesco e o irreverente, fica claro o deslocamento dos acordes que acompanham os momentos mais densos.

Nesse ponto, a densidade dramática recai sobre os ombros do jovem Noah Jupe (que já havia ido bem em ‘Extraordinário’): expressivo, consegue imprimir inocência e vulnerabilidade apenas através do olhar, sendo hábil também ao evocar o choque de seu personagem em determinadas sequências. Já Matt Damon usa seu talento para explorar as nuances do protagonista sem dificuldades, obtendo êxito especial com o potencial cômico oferecido. Por outro lado, Oscar Isaac (sempre eficiente) empresta seu carisma habitual para um papel pequeno, mas marcante. Fechando o elenco principal, Julianne Moore surge discreta, mas eficaz, investindo numa composição que coloca o espectador em dúvida acerca de seu caráter a cada decisão tomada.

Contando com um belo design de produção de James D. Bissell (indicado ao Oscar por ‘Boa Noite, Boa Sorte’, também dirigido por Clooney), Suburbicon encanta ao acertar em cheio na ambientação, fazendo um trabalho de reconstituição de época primoroso ao mergulhar nos anos 50 sem soar excessivo, ao passo que os figurinos de Jenny Eagan (Beasts of no Nation) se destacam ao acompanharem a evolução dos personagens, como ao adotar cores cada vez mais quentes a medida em que alguém vai revelando seu verdadeiro caráter. Em contrapartida, a fotografia de Robert Elswitt (vencedor do Oscar por ‘Sangue Negro’) desaponta por não ir além da tradicional paleta de tons pasteis.

Divertindo ocasionalmente graças às situações pouco usuais a que seus personagens se submetem, ‘Suburbicon – Bem-vindos ao Paraíso’ acaba prejudicado mortalmente pela falta de um objetivo claro, fazendo com que a impressão final seja a de uma produção que atira para todos os lados, acertando em menos alvos do que se supunha. Caso os Irmãos Coen assumissem também a direção, talvez o resultado fosse diferente.

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Crítico de Cinema e Carioca. Apaixonado pela Sétima Arte, mas também aprecia uma boa música, faz maratona de séries, devora livros, e acompanha futebol. Meryl Streep e Arroz são paixões à parte...

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