Em 1965, os estúdios Disney deram início a um projeto baseado no clássico da literatura inglesa “The Jungle Book”, de Rudyard Kipling. Esta não seria apenas uma animação que figuraria, anos depois, entre as mais populares de todos tempos, mas também simbolizaria o fim de uma era. mogli cartazA produção homônima, que estreou nos cinemas em 1967, foi a última supervisionada por Walt Disney, que faleceu antes da conclusão da obra. Quase meio século depois, a Disney retorna com um remake live-action sobre o órfão Mogli, um menino criado por lobos em meio à selva.

A nova versão, sob o comando do diretor Jon Favreau (Homem de Ferro 1 e 2), tem o bom senso de preservar elementos carismáticos do desenho animado, mas é bastante eficaz ao apostar em efeitos especiais e cenas de ação para conquistar os mais jovens.

E a tecnologia não foi poupada: o ator indiano Neel Sethi, que interpreta Mogli, é o único humano em cena. Os demais personagens são todos animais, com figuras geradas por computação gráfica. Uma responsabilidade e tanto atuar sozinho com uma tela verde durante todo o filme, mas Sethi sabe ser extremamente carismático e ágil.

Ao contrário do que pode parecer, as criaturas feitas com CGI fotorrealista que contracenam com Mogli são mais vivas do que nunca. Mas isso graças ao time – e que time – de dubladores como Bill Murray (o urso Baloo), Christopher Walken (Rei Louie, o chefe da trupe de macacos e orangotangos da selva), Giancarlo Esposito (Akela, líder da matilha de lobos), Ben Kingsley (Bagheera, a pantera negra amiga de Mogli), Idris Elba (o tigre Shere Khan), Scarlett Johansson (a cobra píton Kaa) e Lupita Nyong’o (a loba Rakcha).

THE JUNGLE BOOK - (L-R) BAGHEERA, BALOO, MOWGLI and RAKSHA. ©2016 Disney Enterprises, Inc. All Rights Reserved.

Todos os detalhes da selva e seus movimentos – como o quebrar de pequenos galhos, ou gotas d’água escorrendo sob o pelo dos animais – foram minuciosamente trabalhados para inserir o telespectador para dentro da imensidão perigosa e atraente da vida selvagem. Ao mesmo tempo em que a selva parece temível e assustadora, ela revela momentos acolhedores e cheios de beleza.

A trilha sonora também é empolgante e aparece como uma evolução natural da música “The Bear Necessities”, um dos hinos mais queridos da Disney. Sua versão instrumental e modernizada aparece para emocionar nos momentos certos. As cenas musicais também merecem destaque, como em “I Wanna Be Like You”, onde Rei Louie (voz de Christopher Walken), o nobre e gigantesco primata de fala mansa, tenta convencer Mogli a contar o segredo da ilusória flor vermelha mortal: o fogo.

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Há momentos em que a expectativa para ver cenas que já conhecemos no desenho sendo recriadas é alta, e sim, há alguma frustração nesse sentido. Porém, tudo o que deveria ser apresentado está lá, sem desviar o foco da historia original.

Depois de tentativas que não foram exatamente fiéis ou bem-sucedidas nas versões live-action, a Disney finalmente acertou na receita. Resta esperar a mesma sensatez e respeito com os clássicos em produções já anunciadas para os próximos anos, como “A Bela e a Fera”, “Mulan” e “A Espada Era a Lei” – sendo esta última, na minha opinião, o grande desafio do estúdio.

Com leveza e simpatia, Mogli é um filme, como diria o urso Baloo, necessário. Necessário para relembrar momentos que marcaram gerações, necessário para trazer às telas uma nova perspectiva de uma boa história e necessário para resgatar e homenagear um grande clássico.

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Azarada por natureza, viciada em café e desenhos animados. Adora reclamar, especialmente do transporte público paulistano.

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