my_bleeding_heart_by_kilroyart-d4t4sgfO coração de Paulo batia forte só de ver o nome Mariana em sua lista de bate papo do WhatsApp com uma nova mensagem.

Ele estava completamente apaixonado pela linda jovem de cabelos cacheados e parava tudo para responder à moça. E Mari, como gostava de ser chamada, sentia o mesmo por ele e ficava aguardando os sinais azuis, indicando que seu namorado havia lido sua mensagem.

A conversa era repleta de emoticons e frases carinhosas. Para os amigos era uma “melação”, mas, na verdade, era uma grande paixão, aquele sentimento sem explicação, que vai sumindo com o passar do tempo.

O jovem casal acertou tudo pelo chat e o encontro, para o cineminha de quarta, estava devidamente programado.

Ao chegar em frente ao prédio onde Mariana morava, Paulo enviou uma mensagem para a namorada e, enquanto aguardava, chamou o táxi. A jovem e o carro chegaram ao mesmo tempo, mas para Paulo o mundo parava para contemplar a beleza de Mari. O jovem abriu a porta para a moça, entrou no carro e indicou o shopping da cidade para o motorista, Edgar.

Aparentando uns trinta anos, Edgar, o táxista, seguiu em direção ao shopping, sempre observando o casal pelo espelho retrovisor. Risadinhas, beijinhos e cochichos interessavam o motorista e ele precisava ver se era o casal certo para aquela noite.

Edgar era amaldiçoado. Seus antepassados eram feiticeiros. Durante séculos, ele sempre viveu na promiscuidade, prometendo amor eterno para as mulheres e, depois, partindo seus corações. Um ancião lançou, como castigo, um feitiço que o deixou impotente, mas ele recorreu ao senhor das trevas para reverter tal feitiço.

Edgar conseguiu vida eterna com a missão de roubar a paixão verdadeira de jovens casais para alimentar sua virilidade e permanência na Terra.

Naquela noite, Paulo e Mariana seriam as próximas vítimas.

***

Do outro lado da cidade, Sara, a recepcionista do Motel “Você que sabe”, tinha uma missão um pouco diferente.

Ela era uma moça muito bonita, solteira, que nunca havia encontrado alguém que realmente tocasse seu coração. Um mal tomava conta de seu corpo e ela não sabia como se libertar. De tempo em tempo ela, sem saber, se aproximava de algum homem que nutria amor verdadeiro por uma mulher e roubava seu sentimento. Nem sempre ela conseguia uma vítima, era complicado encontrar homens que realmente amassem suas parceiras.

Sara estava possuída por um ser abominável, que habitava o nosso mundo somente para acabar com o sentimento mais belo que existe.

Naquela noite não seria diferente, ela precisava encontrar alguém. O ser necessitava se alimentar.

***

Após deixar o casal no shopping, Edgar estacionou o carro e foi atrás deles.

Ele precisava apenas de um momento a sós com a garota para que pudesse roubar sua paixão. O mais cruel era o fato de que Mariana deixaria de estar apaixonada por Paulo, mas não o contrário. O objetivo era fazer o rapaz sofrer. Sempre foi assim, durante séculos ele vem acabando com paixões e deixando a dúvida entre os casais sobre o real motivo do término do relacionamento.

O motorista viu que Paulo foi ao banheiro e aquele era o momento de abordar Mari.

Ele chegou ao lado da garota e mostrou uma carteira feminina alegando que ela deixara no seu carro. Mariana negou, mas ao trocar olhares com Edgar, o mundo ao seu redor ficou em câmera lenta… Os olhos do homem a atingiram e pareciam puxar algo de dentro do seu peito. A flecha do cupido era retirada.

Edgar sumiu.

Mari estava confusa.

Paulo a reencontrou e foi em sua direção para lhe dar um beijo.

Mariana virou o rosto.

***

Na noite seguinte, lá estava Edgar em seu ponto quando um casal entrou em seu táxi. Eles pediram para levá-los ao “Você que sabe”.

Durante o trajeto, ele percebeu que a mulher era mais uma vítima em potencial e que aquela não seria uma noite de sexo para aquele casal. O único problema era conseguir ficar a sós com ela, porém, naquela noite, Edgar estava querendo aventura.

Sara recepcionou o casal. O motorista levou o carro um pouco mais à frente, deixando o vidro traseiro do carro na direção da janela da recepção.

A moça percebeu que o casal se amava e que aquele homem seria uma excelente vítima. Ela não poderia deixar passar.

Edgar deixou o casal na suíte e foi até uma vaga para carros em serviço que havia perto da recepção. Ele foi até a porta e bateu. Sara abriu e perguntou se havia algum problema. O taxista disse que o passageiro havia deixado cair dinheiro no carro e se ela poderia devolver. Ela viu, naquele instante, a oportunidade de ficar frente a frente com a sua vítima. Edgar perguntou onde havia um banheiro. Sara indicou.

Enquanto a recepcionista ligava para a suíte do casal, Edgar se escondeu ao lado da entrada e assim que o homem saiu para buscar o dinheiro, ele entrou. A porta estava destrancada e a mulher saía do banheiro, quando, antes que ela gritasse, Edgar tampou sua boca. Ele olhou nos olhos da moça que viu tudo em câmera lenta…

O homem bateu na porta da recepção (ele só desceu depois que foi falado a quantia) e aparentando insatisfação estendeu a mão para que Sara lhe entregasse o dinheiro. Ela o agarrou pelos pulsos. Ele ficou paralisado olhando diretamente para os olhos negros da moça, que sugava todo o sentimento que ele tinha pela mulher que o aguardava na suíte. Assim que terminou, o homem um pouco tonto disse que sentia como se sua pressão tivesse caído. Ela pegou um copo de água e entregou a ele que, enquanto bebia a água, comia Sara com os olhos. Antes de voltar para suíte, ele ainda disse “Você é bem gostosa!” e ela só respondeu “é… eu sei”.

Edgar voltou para o carro e, antes de entrar no táxi, foi agradecer Sara.

Assim que ela abriu a porta, o coração do motorista bateu forte. Ele não tinha sentido isso na primeira vez que a viu. Ele olhava com a boca entreaberta para Sara, que na sua visão era como se tivesse uma luz a seu redor. Naquele instante notava a beleza da moça e o sorriso lindo que exibia.

Sara perguntou se ele estava bem. Ele disse que sim com a cabeça.

Edgar agradeceu e perguntou que horas acabava o seu trabalho. A moça respondeu, com um sorriso tímido, enquanto pegava o cartão que ele lhe entregava. Sara suspirou. Colocou o cartão contra o peito enquanto Edgar ia embora e voltou ao trabalho.

Na suíte, o casal, ao invés de sexo entrava em uma DR. Todo o amor que o homem tinha pela sua companheira se fora. Ela podia ver isso nos olhos dele. A mulher também não sentia mais o mesmo pelo homem. Aquilo que ela acreditava ser uma paixão era muito mais, porém, também fora levado por Edgar, que estranhamente confundiu o sentimento.

O trabalho foi atarefado naquela noite para o taxista. Ele fez várias corridas, sempre pensando em Sara. Não sabia o que estava sentindo. Já era hora de ir para casa. Mas ele queria vê-la.

Sara estava se preparando para sair. Ela também pensou em Edgar durante seu expediente naquela noite. Pegou o cartão do taxista e ficou olhando por alguns instantes. Ele havia dito para ela ligar. A moça estava com uma sensação de liberdade que nunca havia sentido antes. Nervosa e tremendo um pouco, ela pegou o celular e ligou para Edgar.

Enquanto dirigia na direção de casa, Edgar ouviu seu celular tocar. Pensou que poderia ser mais uma corrida e hesitou em atender, mas ele se lembrou de Sara e atendeu.

A voz meiga da linda moça, do outro lado da linha, fez o coração de Edgar bater diferente.

Ambos gaguejaram ao trocar poucas palavras, mas ele não teve dúvida, fez o retorno com o carro e foi buscar Sara.

Author

Professor por paixão. Analista de TI pela situação. Quando escrevo, me divirto. Adoro filmes e livros de terror (especialmente Stephen King). Amo viajar e sou louco por montanhas russas.

2 Comments

  1. Parabéns! Gostei muito deste texto ninguém morreu! E as cenas de suspense continuaram,! Espero pelo próximo! Grande abraço!

  2. Michael Santos

    Olá katy! Obrigado por mais uma visita. Esse foi bem tranquilo né? Mas não fique triste (rs) os próximos serão mais assustadores…hehehe

    Até mais!!