Há alguns dias uma amiga querida me enviou, como de costume, alguns e-mails com belíssimas imagens e mensagens, ou notícias de todo o mundo. Daquela vez ela me enviara um documento em “PDF”, um livro, falando dos primeiros banqueiros, os Rostchild, e datando ao longo dos séculos como esta família continua a frente das maiores instituições financeiras, e, diz o documento, fomentando guerras para poder financiá-las de ambos os lados. Também me enviara um “Power Point” sobre o Islã, sobre a Sharia, e como os muçulmanos vão impondo seu modo de vida quando vão morar em outros países. Ela escreveu a todos os amigos que concordando ou não com o que era relatado, achava interessante conhecer todos os lados de um assunto. Mas os textos e imagens eram tão chocantes, que me causaram um forte impacto.

Foi quando lhe escrevi um e-mail, pois somos modernos, e não enviamos mais cartas, não é? E pus na telinha o que me ia na alma. Depois, achei que era algo que deveria ser compartilhado. Então, estou reproduzindo na íntegra o texto, pois acho que esta reflexão é necessária.

“Querida amiga X,

Vi o Power Point hoje; ontem li metade do livro falando sobre os Rostchild. É perturbador entrar em contato com todas estas informações, pois a sensação é de estarmos num beco sem saída. Como conseguiríamos colocar estas diferentes raças/culturas em seus devidos lugares, a não ser com mais matança e ódio por eles? E quem nos garante que tudo o que lemos também não é manipulado para que sintamos ódio por todos eles? Somos todos parciais e defensores do nosso status quo. Se cada um defende a sua própria verdade, de acordo com sua própria evolução pessoal. E as pessoas não estão reunidas por acaso neste ou naquele grupo étnico, religioso, etc. São os semelhantes que se atraem.

Dentro desta nossa globalização de informações, me recordo de um dia, há anos atrás, quando minha sogra, japonesa que assiste NHK diariamente, mas não assiste ao jornal nacional, estava preocupadíssima com a reprodução acelerada dos brotos de bambu…no Japão. Sofria por uma situação da qual não participava. Vivia (e vive) tão fora da realidade brasileira que não sabe nem comer arroz com feijão e uma farofinha. Precisa ir a Liberdade toda semana para reabastecer a despensa.

Agora imagine que nós estamos nos angustiando com o que ocorre em outras plagas, enquanto não conseguimos sequer ir visitar o orfanato ao lado semanalmente, para ler um livro para crianças carentes de tudo. Estamos nos preocupando com algo que pode, talvez, nos afetar financeiramente, se houver algum embargo comercial, mas nada com o qual já não estejamos acostumados, visto que pagamos impostos para tudo e não recebemos nada em troca (nem educação, nem saúde, nem estradas, nem polícia, nem…)

Ficamos absurdados com a Sharia, mas convivemos pacificamente com polícia que é bandido, com grupos de extermínio, padres comendo criançinhas, mulheres e idosos sendo violentados, intimidados. Você sabia que se você for (como eu fui), com uma idosa a uma delegacia para pedir para ajudar com um familiar que está se tornando agressivo e ameaçador, o policial irá rir da tua cara e dizer que não pode fazer nada, a não ser que “aconteça alguma coisa” (leia matar, bater ou estuprar, por exemplo…)? A delegacia do idoso é uma farsa, a da mulher também. Não nos indignamos com nada disto, porque ninguém nos informa. Mas nos importamos com o desrespeito idêntico que ocorre do outro lado do globo. Aqui não fazemos nada, e do outro lado também não o faremos, porque lá não vivemos.

O que aprendi é que a máxima “a caridade começa em casa” é abrangente em vários aspectos. Se ensinarmos aos nossos filhos a serem gente, e aos nossos vizinhos o que é ser ético (através do exemplo), com certeza já estamos fazendo algo. Se ensinarmos aos pequenos que a roupa que não serve irá para os pobres, que o brinquedo deve ser conservado, para poder ir inteiro para a próxima criança, já estamos começando um movimento. Se separarmos o lixo reciclável em seus devidos lugares ao invés de jogar a sacola com tudo misturado em qualquer um dos conteineres, já estamos dando o exemplo. Os movimentos reais são pequenos, como a pedrinha que faz um círculo ao cair na água. Este círculo irá se propagar.

Mas há círculos que, eu acho, não devem se propagar. O da desconfiança pelos semelhantes é um deles. Eu não sei o que falam de mim, ou de nós, mas na verdade, pouco importa. Se vierem me atacar, aí eu vou me defender, mas caso contrário, todos são homens e mulheres, pais e filhos, e importam para alguém. Tem sentimentos. E só conhecem aquele código cultural, Para eles, nós os amedrontamos, assim como eles nos amedrontam.

Sabe, nós ganhamos um periquito aqui em casa. Ele é criado solto, vai e vem da gaiola quando quer. Quando escuta a porta da casa abrir, corre para o nosso ombro, canta na nossa orelha, e mordisca de leve, como se desse beijinhos. Outro dia uma amiga minha o conheceu e ficou espantada. Disse que nunca em sua vida tinha visto um periquito domesticado, pois eles são ariscos e agressivos. Eu lhe respondi que como eu era ignorante da impossibilidade de domesticá-lo, domestiquei. Como não sabia que era agressivo, lhe dei carinho, e ele retribuiu. Como não sabia que era arisco, brinquei com ele e lhe dei de comer na mão. Sem os pré-conceitos conseguimos nos relacionar plenamente.

Se eu tivesse analisado como era a formação social japonesa, nunca teria me casado com um descendente. Às vezes a inexperiência e a ignorância enriquecem as nossas vidas…Vamos ler estas informações, sempre, mas vamos também buscar informações no primeiro quilômetro que nos rodeia. Acho que este movimento, sim, deveria ser propagado. O que você acha?

Beijinhos”

E boa reflexão para todos!

*Texto originalmente publicado no blog Ponto Contos & Poemas

 

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6 Comments

  1. aleromero

    Seja bem-vinda Heliodora e parabéns pelo excelente texto de estréia!

    É algo para realmente se discutir e refletir bastante!

  2. hellenitavcdvd

    Heliodora, em primeiro lugar muito prazer em conhecê-la!

    Nesse exato momento, estou atolada de trabalho, mas como sempre, qdo mandam pelo Twitter, algum post novo daqui, tento vir dar uma espiada, e a espiada na maioria das vezes vira a leitura do texto todo, e neste caso, eu não podia simplesmente sair sem comentar.

    Amei tudo que vc escreveu, e quero dizer que na medida do possível, procuro educar meus filhos dentro daquilo que sempre aprendi com meus pais [ na verdade mais com minha mãe, pois meu pai sempre foi ausente na nossa educação]. Só que aqui eu travo uma batalha [ou várias] por dia. É pq não tenho que educar só meus filhos, que estão comigo desde que nasceram, minhas enteadas tbm moram comigo há 1 ano e meio, e como é complicado vc lidar com tantas pessoas diferentes numa mesma casa.

    Infelizmente o tempo pra escrever agora é curto. Só quero dizer que de modo geral, é muito difícil passar para filhos e no meu caso enteadas, o "correto". É impressionante como pra eles o errado é sempre mais fácil [ e não só pra eles né… ]. Só pra se ter ideia, luto diariamente aqui por conta do lixo, que deve ser reciclado. Tenho 2 cesto grandes para separá-los, mas a preguiça que eles tem de pegar um pote de iogurte por exemplo, passar uma aguinha e colocar no lixo reciclável é tanta, que quase diariamente me estresso com 1 deles por conta disso. O meu filho de 15 anos por exemplo, qdo pego no pé dele, ele diz? "mãe que diferença vai fazer pra vc eu jogar nesse lixo ou naquele… que planeta nada mãe, vai fazer diferença um pote de iogurte?…" e por aí vai. Resumindo, é difícil, é desgastante mas eu não desisto. Na verdade só citei aqui um exemplo bobo de como é mais fácil não se fazer nada pra melhorar o mundo, e deve ser por isso que o mundo está como está. [ Acho que perdi um pouco a linha de pensamento, pois estava escrevendo e fui atender telefone, desculpem se ficou confuso, assim que possível volto pra concluir melhor meu comentário].

  3. Heliodoraaaaaa que prazer tê-la conosco no Central 42!!!
    Adorei o texto! Sua reflexão é a minha reflexão! Incrível como fui lendo cada fração de texto e me deparando com a idéia de "poxa, é assim que penso também"!
    Realmente as pessoas, como diria minha mãe, sentam sobre o rabo e falam dos outros. Preferem apontar o que é correto ao invés de arregaçar as manguinhas e agir.
    Todos os sábados, quando venho para a empresa (uma concessionária de veículos automotivos), o Duda, que é o funcionário encarregado de manter a limpeza dos veículos, quando me vê ele diz "já vou pegar o saco de lixo de 100 litros e ir limpar o teu carro" kkk…
    Ele fala isso tirando sarro, mas porque sabe que eu não jogo 1 papelzinho pela janela! Seja o que for, eu vou largando pelo carro. É jornalzinho que pego no farol (porque as pessoas estão alí, batalhando o pãozinho delas ao entregar aquele jornalzinho e não custa ajudar), é o papel da balinha, a embalagem do lanche adquirido em "drivers thrus", revistas já lidas… Eu não jogo na rua, me recuso a ver isso com normalidade e me revolto quando vejo um carro que passa e lança seus papéis picados ao vento!

    Por esses dias também, descobri que tanto o Extra quanto o Wal Mart próximos de casa, tem um big aparato para depósito de material separado para reciclagem… agora já não se tem a desculpa de que a prefeitura não fornece coleta seletiva. Poxa, vou ficar esperando a prefeitura consertar o furo do pneu do meu carro? Não vou né, porque é urgente pra mim… Então o lixo para reciclagem também não vai esperar o caminhão da prefeitura para ser triado e recuperado, pois a natureza não tem mais tempo!

    Se cada um tomar uma atitude, esse pequeno gesto se torna algo grandioso e tudo vai fluir de forma maravilhosa!

    Beijos
    Ara

  4. Cida Candido

    putz.. tá aí uma coisa que, também, sempre faço quando rola: pegar panfletos de quem fica entregando nas ruas – é o trampo deles! não custa nada pegar e jogar fora depois…
    E qualquer papel vai pro meu bolso ou pra bolsa… nada de chão.
    De fato, não custa nada contribuir…

    =))

  5. Heliodora

    Hellenita, que bom que vc amou o que eu escrevi! fico feliz que tenha incitado a reflexão sobre as nossas atitudes, e a validação do que nos esforçamos para ensinar… Espero poder contribuir com outros textos em breve, pois minha rotina também é complexa, com filhos, trampo, e tudo o que uma casa demanda.

    Heliodora

  6. Heliodora

    O prazer é todo meu!! Espero que o texto incite mesmo várias reflexões e atitudes. A pedrinha fazendo onda na água, mesmo. Até breve!