Quando foi lançada nos anos 90, a série de TV Power Rangers se destacava não por apresentar adolescentes que se tornavam defensores da Power Rangershumanidade, mas pela irreverência de seus inimigos e por peculiaridades de sua história.

Ora, como levar a sério uma extravagante vilã que atende pelo nome Rita Repulsa? E o que dizer das batalhas espalhafatosamente coreografadas, que mostravam os heróis em gloriosas poses, enquanto se preparavam para derrotar inimigos e soltarem faíscas ao serem atingidos por socos e pontapés?

Pois foi exatamente essa irreverência, aliada à contagiante música-tema que transformou os Power Rangers em ícones da cultura pop. E é uma pena que os produtores não entendam isso, preferindo convertê-los em super-heróis genéricos, que parecem estrelar uma mistura pobre de Poder Sem Limites com Clube dos Cinco.

Escrito por John Gatins (do bom Gigantes de Aço), o roteiro investe numa desnecessária carga dramática, que não combina com o tom da série. Sim, a inspiração em Clube dos Cinco é até bem-vinda, mas colocar os rangers para trocarem lições de vida ou discutirem temas adultos vai na contramão do teor inconsequente da mitologia clássica.

Além disso, os péssimos diálogos parecem saídos de um livro de auto-ajuda, criando um sentimentalismo barato que chega ao ápice numa artificial cena em que os Rangers se reúnem perto de uma fogueira. Dessa cena, aliás, salva-se apenas a corajosa opção por incluir um subtexto envolvendo homossexualidade, ecoando a idéia de inclusão que a produção já havia manifestado ao escolher seu elenco.

E por falar em elenco, o longa-metragem mostra-se fiel, pois a falta de qualidade na interpretação dos jovens atores já era marca registrada da série de TV, a exceção fica por conta de RJ Cyler (do ótimo Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer) que surge carismático e é competente ao transmitir toda a insegurança de seu Billy/Ranger Azul.

Já Elizabeth Banks parece entender mais da série original do que os próprios produtores, compondo sua Rita Repulsa com toda a extravagância que lhe é peculiar, não hesitando nem mesmo em soltar gargalhadas histéricas. E se Bryan Cranston pouco pode fazer além de interpretar uma imensa cabeça falante, Bill Hader é eficaz ao capturar a essência do simpático robô Alpha, fazendo a alegria dos fãs.

Power Rangers

Os fãs, por sinal, não devem reclamar de fidelidade, já que a estrutura clássica é seguida fielmente, com direito à presença da música-tema (embora por pouquíssimo tempo) e à famigerada batalha de Megazords que, juntamente ao imenso vilão Goldar, comprova a natureza barata dos efeitos visuais da produção, que falham em diversos momentos, como ao mostrar a “aterrissagem” dos bonecos de massa (num erro de perspectiva), ao exibir um plano aéreo da Alameda dos Anjos (numa homenagem involuntária ao jogo The Sims) e nas diversas explosões que soam digitais demais.

Infelizmente, esses momentos que lembram a série são escassos numa narrativa cheia de buracos: como Billy sabia a história dos Rangers se o mapa estava em idioma extraterrestre? E o que dizer do fôlego infinito dos jovens ao atravessar uma espécie de “lago lateral”? Isso para não citar as inúmeras e implausíveis coincidências que amarram certos acontecimentos.

Já o diretor Dean Israelite (do fraco Projeto Almanaque) até tenta conferir estilo às lutas, mas acaba se repetindo ao investir excessivamente em planos em câmera lenta e em efeitos que simulam ondas de energia.

Israelite também é prejudicado pela montagem burocrática que, se acerta ao conferir agilidade ao primeiro ato, falha feio ao não conferir energia nas sequências de ação, que carecem de inspiração e empalidecem até mesmo Power Rangersdiante das risíveis batalhas da série de TV.

A Fotografia de Matthew J. Lloyd é outro ponto negativo, pois consegue a proeza de escurecer um filme repleto de criaturas coloridas, e sem 3D (que naturalmente adiciona um véu cinza às produções).

Para piorar, o irregular compositor Brian Tyler faz da Trilha Sonora de Power Rangers uma das piores de sua carreira, adotando temas letárgicos e cometendo o grave erro de não aproveitar a música-tema da série, o que é uma pena.

Pontuando a narrativa com um humor que simplesmente não funciona (com exceção da ótima piada envolvendo Transformers), Power Rangers desperdiça uma boa oportunidade de revitalizar a franquia, preferindo, ao invés disso, investir numa aventura genérica, mal escrita, e povoada por personagens desinteressantes.

Uma decepção que o Framboesa de Ouro dificilmente ignorará…

Obs: Há uma cena pós-créditos.

Author

Crítico de Cinema e Carioca. Apaixonado pela Sétima Arte, mas também aprecia uma boa música, faz maratona de séries, devora livros, e acompanha futebol. Meryl Streep e Arroz são paixões à parte...

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