Quando um produto é criado, o melhor para o vendedor é que ele interesse o consumidor. Pelo menos, espera-se que o público-alvo ache a mercadoria satisfatória. Parte do processo de venda, de capturar a atenção do possível comprador, é a propaganda.

Pode-se pensar num filme dessa forma. Apesar de ser arte, é arte que as distribuidoras vendem. Especialmente ao lançar um blockbuster, uma produção que se encaixa perfeitamente dentro de um gênero, que segue todas as fórmulas esperadas, tem de se pensar num trailer atraente, que convença o espectador de que vale a pena ir aos cinemas em vez de assistir aquele filme parecido que será exibido “hoje, na Sessão da Tarde!”.

Uma experiência positiva para ter uma nova perspectiva sobre o assunto seria assistir hoje o trailer de um filme que fez parte de sua infância. Por exemplo, um marco da minha geração foi Harry Potter e a Câmara Secreta, cuja chamada revi recentemente.

Apesar de fã confessa, admito que ao deparar-me com a infantilidade daquelas cenas, consegui pensar em uma ou duas abordagens diferentes e, na minha humilde opinião, melhores para vender a imagem da obra. Porém, essa é uma pessoa de 20 anos se dispondo a adaptar um trailer para torna-lo mais maduro, modificando-o de uma forma que trouxesse o público de sua própria faixa etária às filas das bilheterias.

Entretanto, o primeiro Harry Potter é decididamente um filme infantil e, para as crianças, o trailer é sim atraente – e muito. Lembro-me da animação que senti há 13 anos enquanto entrava no Cinemark, arrastando minha mãe pela mão. Ela não esperava encantar-se com um filme que a filha de sete anos estava ansiosa para assistir. Nesse sentido, esse trailer é perfeito. Seduz crianças e, por tabela, leva adultos ao cinema, que podem interessar-se pelo tema.

Logo, um bom trailer não é necessariamente um retrato perfeito, mas sim um retrato encantador da produção que pretende apresentar. O primeiro Harry Potter leva a vantagem dos filmes infantis que, quando bem apresentados e, obviamente, com temas interessantes, são repetidamente assistidos por adultos. Por exemplo, ao final da saga literária de Percy Jackson, estava a ponto de desejar um final trágico só para que a história terminasse, pois é uma experiência completamente diferente lê-lo aos 12 e aos 18 anos. Entretanto, vi muitos adultos irem ao cinema e debulharem-se em lágrimas com o último Toy Story.

Ainda assim, HP é um caso a parte porque já era um sucesso mundial quando foi ao cinema. Pensemos em ícones de origem diversa.

O coronel e o lobisomem, brasileiríssimo, com um ar de causo de interior cheio de folclore, tinha seus pontos fortes. Mas o que fechou o negócio para mim foi um momento EXPETACULAR em que Selton Mello transformava-se em homem-lobo. Construí uma imagem do filme em cima disso, cheia de cenas excitantemente povoadas por mitos.

Assim, como descrever a decepção de descobrir que a transformação ocorre uma única vez, e que as cenas de mais ação estão no trailer? E mais, o filme é descrito como comédia, mas rir foi minha última vontade enquanto assistia. Portanto, o trailer anunciou algo que não existia. É bem ruim para o filme, que acaba sugerindo um público X quando deveria ter sua propaganda voltada ao público Y.

Um trailer que tem um objetivo e se atém a ele é o de As aventuras de Pi. Tem um naufrágio, um garoto num bote e um tigre. A proposta já sai um pouco da rotina, mas, Ang Lee, não satisfeito, adotou uma fotografia marcante em todas as suas cores, de uma vivacidade mais forte do que a realidade cotidiana. Nem há falas; elas não são necessárias à proposta.

Agora, vamos por outro lado. O trailer campeão vende até aquilo que não é bom – ou neste caso, quem deixa a desejar: Ben Affleck. A Framboesa de Ouro é um “prêmio” recebido todos os anos pelos considerados piores filmes, e o ator recebeu em 2015 o “Troféu da Redenção”, dado àqueles que saem do nível Framboesa e recuperam-se até chegar ao tapete vermelho. Ainda assim, Affleck, como Nicolas Cage, de quando em vez ouve a crítica de que peca na falta de expressão, especialmente facial. Seus pequenos olhos a meio mastro tendem a predominar nas cenas cômicas, trágicas e dramáticas, sem grandes alterações. Dessa vez, foi ovacionado por, dentre outros filmes, Garota Exemplar.

Esse último é mais um cuja mera trilha sonora funciona brilhantemente com o que se propuseram a mostrar como prévia. Sem aprofundar-se a ponto de revelar algo importante para a obra, o trailer vende um melancólico caso de amor com um final obscuro. É uma pequena verdade que exerce o fascínio necessário sobre os fãs de mistério.

Mas, em questão de prévias, até o Oscar recebe eventualmente olhares tortos. Skyfall, premiado pela melhor música em 2013, é um pouco poluído em termos de trailer, visual e sonoramente. Também, ao tentar descrever a narrativa, você entende o geral e fica perdido em outros pedaços. No entanto, 007 é praticamente uma marca e tudo isso funciona a seu favor, já que se tornou parte da identidade de James Bond. Quando se chega ao sexto ator a dar vida ao mesmo personagem, se ganha certas liberdades, incluindo a de sobrecarregar os sentidos dos pobres expectadores.

Há ainda trailers que tentam a abordagem de mostrar um pouco do que há de melhor e, diferente de O coronel e o lobisomem, não constroem castelos de ar, mas tiram toda a surpresa. Desses, podemos citar Tomorrowland, Terremoto – a falha de San Andreas, Minions e Terminator. São casos de não saber explorar os pontos fortes da obra; como já dizem os artistas de Stand Up, para que estudar quatro anos de publicidade e lançar o slogan “Só Toddy é Toddy”?

Em um filme cujos protagonistas são unicamente os minions, espera-se que o ponto alto sejam suas trapalhadas, e não o roteiro. Tantas delas, infelizmente, estavam no Youtube para a promoção da obra que era possível sair do cinema um pouco perdido.

Em Terremoto, o expectador pode inocentemente esperar por um grande filme sutilmente apresentado (como foi o caso do primeiro HP). A espera é, contudo, em vão, já que o próprio título contém a sacada fílmica: uma falha sísmica. Que corta a Califórnia. É trágico. Dolorosamente previsível. E fim.

Ao ver cenas futurísticas e ouvir o anúncio de um lugar de possibilidades, espera-se saber mais sobre o tal lugar, e não mal entender do que se trata. Não se sabe muito sobre o que acontece em Tomorrowland e, o que há de mais futurístico sobre ela está no anúncio. Não, não é Matrix, em que todos os segredos são revelados no tempo certo. Só é frustrante.

Novo Terminator. Schwarzenegger. Apenas isso já atrairia o público, mas era necessária uma prévia. O que não era preciso é que a prévia resumisse metade do filme. E que assistir ao filme te deixasse estressado, porque metade estava no trailer, e confuso, por não entender o propósito daquilo. Haverá continuação? O que aconteceu? Por que John Connor é tão feio se seus pais são Emily Clarke e Jai Courtney? Todas essas perguntas poderiam ser tema de mais um Globo Repórter.

Pensando em tudo isso, pode-se dizer que alguns aspectos importantes de um bom trailer são:

  • – Valorização do público-alvo: é muito frustrante esperar um tipo de filme e se deparar com algo que não tem nada a ver. É como pedir de presente uma bicicleta e ganhar um ioiô.
  • – Menos é mais: exageros e tendências a colocar as melhores cenas na propaganda não constroem uma boa imagem para a obra.
  • – Impacto: um bom trailer lança o filme apontando seu diferencial. Se sonoplastia e fotografia, por exemplo, são importantes na obra, também podem fazer a diferença na propaganda.
  • – Um grande trailer para um filme mais ou menos está fazendo um desfavor, pois traz perda de credibilidade a quem se dá ao trabalho de assistir.
  • – A não ser que esteja anunciando um 007, poluição não será bem recebida.
  • – Trailer não resume o filme: trailer anuncia o tema do filme – diferença que não está clara para todas as distribuidoras. É uma chamada, não sinopse.

Agora, apesar de toda essa avaliação, não existe e nem existirá a prévia perfeita, é claro. Até porque, ela depende muito da qualidade do que anuncia, o que já é bastante subjetivo.

Mas o trailer é, com certeza, o cartão de visitas que desperta a curiosidade de quem está ali, casualmente checando os próximos lançamentos. Se não houve uma fisgada inicial, da qual faz parte todos os critérios acima, dificilmente (a não ser que o filme seja a adaptação de uma aclamada obra, ou continuação de uma franquia bilionária) um público relevante em números irá se dispor a uma visita ao cinema.

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Universitária, escritora de contos presos na gaveta, nerd e "apenas uma dessas pessoas estranhas".

2 Comments

  1. Hoje, de cada 10 filmes blockbuster americanos, somente três ou quatro no máximo (to sendo bonzinho) serão lembrados daqui a dez anos. O caso que esses filmes são criados para a massa que, na maioria das vezes, vai ao cinema para se esquecer dos problemas do mundo e quer somente se entreter dentro de um cinema, mas não pensar. Devido a isso, a pessoa até curte o filme, mas depois de sair do cinema vc se esquece por completo o que acabou ver, sendo que, o maior tesouro que o filme ganha é a gente levar ele em nossas mentes.

  2. Hoje, de cada 10 filmes blockbuster americanos, somente três ou quatro no máximo (to sendo bonzinho) serão lembrados daqui a dez anos. O caso que esses filmes são criados para a massa que, na maioria das vezes, vai ao cinema para se esquecer dos problemas do mundo e quer somente se entreter dentro de um cinema, mas não pensar. Devido a isso, a pessoa até curte o filme, mas depois de sair do cinema vc se esquece por completo o que acabou ver, sendo que, o maior tesouro que o filme ganha é a gente levar ele em nossas mentes….